Bomba de sistema de resfriamento falhou há 10 dias. Trabalhos adiantados podem eliminar uma das três EVAs programadas.

Ontem (21/12/2013), dois astronautas trabalharam fora da Estação Espacial Internacional (ISS) para remover uma bomba que sofreu pane. A rapidez da operação pode ter acabado com a necessidade de uma caminhada espacial no Natal.

Há dez dias, uma válvula de controle de fluxo do módulo da bomba do sistema de resfriamento apresentou pane, sem perigo imediato aos seis residentes da ISS. Nos dias seguintes controladores de voo, em solo, tentaram sem sucesso consertar a válvula. Depois, tentaram usar outra válvula para regular a temperatura, com algum êxito. Na última terça-feira (17), a NASA decidiu que a situação era severa o bastante para a realização de caminhadas espaciais.

O módulo seria trocado na segunda-feira (23) em uma atividade extraveicular (EVA) de 6,5 horas. Ontem, Rick Mastracchio e Mike Hopkins, da NASA, fizeram uma EVA de 5 horas e 28 minutos.

Astronautas Mike Hopkins e Rick Mastracchio realizam caminhada espacial na ISS (Foto: NASA TV)

"Lindo dia", disse Mastracchio ao sair do módulo de vácuo Quest sobre a costa oeste da África.

Originalmente, os astronautas apenas preparariam a bomba para remoção, mas a dupla conseguiu completar a maioria das tarefas planejadas em apenas 3 horas. O controle de missões, em Houston, EUA, autorizou a remoção do módulo, que tem o tamanho de uma geladeira, e seu acondicionamento em uma plataforma próxima.

"Estamos cerca de uma hora e meia à frente do planejado, então, escolhendo sua própria aventura, vamos em frente e tentar remover o módulo da bomba", informou a base na Terra aos astronautas.

Adiantados  A remoção prematura pode significar que a terceira EVA, planejada pra o dia 25, não seja necessária.

A válvula em pane, que regula a temperatura da amônia que flui pela bomba, deixou de funcionar adequadamente no dia 11. Sistemas não-críticos e experimentos em dois laboratórios da ISS foram desligados.

A EVA deste sábado estava focada apenas e desconectar as linhas de fluido do módulo e instalar uma caixa de "jumper", para impedir que a amônia sofresse sobrepressão durante a substituição do equipamento.

(Arte: Space.com / Tradução: Eduardo Oliveira)

Trabalhando do estibordo (lado direito) da coluna principal da ISS, Mastracchio, na ponta do braço robótico Canadarm2, e Hopkins primeiro se concentraram em desconectar os engates rápidos das linhas de fluido da bomba.

Como o nome sugere, os engates rápidos foram feitos para serem conectados e desconectados, mas EVAs anteriores, incluindo uma em agosto de 2010 para substituir o mesmo módulo, tiveram problemas em soltar as linhas pressurizadas. Os dois astronautas que fizeram a EVA de 2010 estavam no controle da missão auxiliando via rádio.

Aprendendo com experiências anteriores, a pressão das linhas foi reduzida na preparação da EVA de ontem. Assim, a dupla pode desconectar as duas primeiras linhas com poucos problemas – a primeira com uma hora e 45 minutos de EVA.

Astronauta Rick Mastracchio no braço robótico Canadarm2 da ISS (Foto: NASA TV)

Neve  Após desconectar as linhas, os astronautas relataram ver "neve" – flocos de amônia congelada – flutuando dos conectores.

"Eu vejo um pouco de neve, muito pouco", disse Mastracchio. "Flocos muito pequenos vindo lado anterior [do engate rápido]. Flocos muito pequenos."

Mastracchio, respondendo a Houston, confirmou que os flocos podiam ter pousado no traje espacial de Hopkins. Um dos perigos de trabalhar com amônia – substância tóxica – é a contaminação, embora os pequenos flocos sólidos não tenham sido grande preocupação.

Com a primeira das duas linhas soltas do módulo, os astronautas conectaram o "jumper", que direciona a amônia de volta ao circuito para mantê-la líquida. Depois, desconectaram as linhas restantes e e cinco linhas elétricas.

"Muito legal, saiu lindamente", comentou Mastracchio. "Quase nenhuma carga nessa coisa, saiu bem limpo."

Frio  Foi a facilidade para remover as linhas que abriu o tempo para remover o módulo. Mastracchio teve apenas uma preocupação no trabalho adicional: o frio em seus dedos dos pés.

"O único problema que eu pessoalmente estou tendo é muito, muito frio", disse. "Por eu estar apenas flutuando aqui no braço [robótico], tenho fluxo de ar muito, muito bom em minhas botas, mas meus dedos dos pés estão bem frios."

Para remover o módulo de 355 kg, quatro parafusos tiveram que ser soltos. Mastracchio, ainda no Canadarm2, puxou a bomba da estrutura da estação para que Hopkins instalasse uma garra de fixação do braço robótico em um dos lados do módulo.

De dentro da ISS, Koichi Wakata, astronauta da JAXA, controlou o braço para levar Mastracchio, com o módulo, ao local de armazenamento temporário, chamado Acomodações de Unidades Orbitais / de Carga Substituíveis (POA).

No início da EVA, Hopkins também deveria ter preparado o módulo novo. Após consulta com Mastracchio, Houston concordou em fazê-lo após o módulo falho ser removido e acomodado.

Mastracchio com a bomba em pane (Foto: NASA TV)

Trajes espaciais  Esta EVA foi a primeira a usar trajes espaciais estadunidenses desde julho, quando água do sistema de resfriamento fluiu para dentro do capacete do italiano Luca Parmitano – que retornou às pressas para a ISS. Hopkins usou o traje de Parmitano, mas com uma nova montagem de filtros, substituindo os componentes falhos.

Como precaução, engenheiros da NASA fizeram com que fossem colocadas almoçadas absorventes e snorkels temporários, mas não foram necessários. Os capacetes permaneceram sem água, conforme verificado em checagens periódicas.

Esta caminhada espacial recebeu a designação de EVA US-24 e foi a sétima de Mastracchio (que tem 45 horas de EVAs, no total), a primeira de Hopkins e a 175ª para montagem e manutenção da ISS. Mastracchio vestiu a Unidade de Mobilidade Extraveicular (EMU) 3010 e Hopkins, a EMU 3011.

"Nos referimos a ela como uma caminhada espacial de contingencia e as habilidades são mesmo fundamentais", disse Doug Wheelock, astronauta da NASA, na NASA TV na quinta-feira (19). "Praticamos todas estas habilidades, apenas as ensaiamos de novo e de novo na piscina. A tripulação fez estas habilidades particulares. As habilidades são as mesmas, mas o espaço sempre tem surpresas para nós, especialmente quando saímos."

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A caminhada espacial de segunda-feira (EVA US-25) começará os trabalhos de onde a de ontem parou e Mastracchio e Hopkins instalarão o módulo reserva. Dependendo de até onde conseguirem ir com as conexões, uma saída no Natal (EVA US-26), a primeira EVA da NASA em um Natal, planejada para reconectar os engates rápidos das linhas de fluido e acomodar a antiga bomba para possível uso futuro pode não ser necessária.

Uma nave Cygnus, da Orbital Sciences Corp, deveria ter decolado com suprimentos para a ISS no dia 19. Para a realização das EVAs, o lançamento foi adiado para, pelo menos, 7 de janeiro.´

Além dos estadunidenses Mastracchio e Hopkins e do japonês Wakata, estão na ISS os russos Oleg Kotov, Sergey Ryazanskiy e Mikhail Tyurin.

 

Boletim Em Órbita, The Guardian, Space.com