Observações mostram que foram feitas manobras úteis em operações contra-espaciais. Objeto foi liberado pela nave semanas atrás.

O spaceplane reutilizável da China tem usado uma espaçonave menor para testar operações de proximidade, podendo até capturar o objeto.

A China lançou sua espaçonave experimental pela terceira vez por meio de um foguete Longa Marcha 2F em 14 de dezembro do ano passado. Ela lançou um objeto em órbita, catalogado pela primeira vez pelas equipes de conscientização do domínio espacial da Força Espacial dos EUA em 24 de maio, após o levantamento da órbita e meses de operação estável.

Leia mais: “Spaceplane chinês secreto libera objeto em órbita”, 28/05/2024.

A análise de dados orbitais e observações a partir de Leiden, na Holanda, feita por Marco Langbroek, professor de Consciência Situacional do Espaço Ótico na Universidade Técnica de Delft, sugere que o spaceplane usou o “Objeto G”, para testar operações de encontro e proximidade (RPO) nos dias 7 e 8 de junho. Essas operações podem ser úteis para recuperar e manutenir satélites amigos ou para causar efeitos negativos contra espaçonaves de adversários.

Após liberar o objeto, a nave realizou uma manobra de evasão seguida por outras manobras entre 5 e 7 de junho, afirmou Langbroek em seu blog. Essas manobras o levaram para perto do objeto novamente em 8 de junho.

“Algumas combinações de dados orbitais […] sugerem que uma possível aproximação muito próxima no nível quilométrico ou até menor pode ter ocorrido em 8 de junho, perto das 14-15h UTC [11-12h de Brasília]”, escreveu Langbroek.

“As rápidas manobras evidenciadas pelas claras mudanças orbitais em sucessivos elsets de 8 a 9 de junho dificultam, no entanto, a validação das verdadeiras distâncias envolvidas.” Elsets é a abreviação de “element sets“, conjuntos de elementos, usados em rastreamento de satélites e mecânica orbital.

Embora não esteja claro se a nave recuperou e liberou brevemente o Objeto G, sua aproximação sugere operações de proximidade intencionais.

Jonathan McDowell, astrofísico e rastreador de atividades de voos espaciais, disse ao site SpaceNews que chegou a conclusões semelhantes às de Langbroek com relação a possíveis manobras.

Operações secretas Essa não é a primeira atividade desse tipo feita por essa nave chinesa. Dados da empresa Leolabs sugerem que o spaceplane realizou duas, talvez três, operações de captura/acoplagem com um objeto em órbita durante seu segundo voo, entre 2022 e 23.

A China também realizou RPOs em órbita geoestacionária. Em dezembro de 2021, o Shijian-21 rebocou um satélite geoestacionário inoperante para uma órbita cemitério, mais alta. O cinturão geoestacionário também é palco de atividades contra-espaciais envolvendo os EUA, a Rússia e a China. É público que militares americanos estão trabalhando para reforçar sua capacidade de detectar e rastrear ameaças nessa região do espaço.

A China tem mantido sigilo absoluto sobre as missões de seu “avião espacial”. As autoridades espaciais do país não divulgaram imagens nem descrições da espaçonave, dos objetivos das missões e de tecnologias e equipamentos a bordo. O único relatório oficial chinês sobre a atividade é um breve comunicado sobre o lançamento, divulgado horas após a decolagem.

O voo inicial, em 2020, durou apenas dois dias. A segunda missão, lançada em 2022, se estendeu por 276 dias. Ambas incluíram a implantação de um objeto em órbita. O intervalo entre a primeira e a segunda missões foi de quase dois anos, com a terceira missão sendo lançada após um intervalo de sete meses.

A espaçonave foi projetada para funcionar em conjunto com um primeiro estágio suborbital reutilizável. Essa nave suborbital, que usa decolagem vertical e pouso horizontal, foi testada pela primeira vez em 2021. Uma segunda missão voou em agosto de 2022.

A Corporação de Ciência e Tecnologia Espaciais da China (CASC), que desenvolveu a nave, anunciou planos para um sistema de transporte espacial de dois estágios totalmente reutilizável antes do primeiro lançamento. Em 2022, o projeto de spaceplane da CASC recebeu financiamento nacional da Fundação de Ciências Naturais da China.

Sobreposição de 36 frames de vídeo feito por Marco Langbroek em 07/06/2024 mostrando o spaceplane chinês e seu Objeto G (Marco Langbroek / X)

A espaçonave é vista como uma tentativa de desenvolver recursos semelhantes aos do spaceplane X-37B americano, reutilizável e autônomo. Por serem reutilizáveis, essas espaçonaves representam um avanço significativo na tecnologia espacial, oferecendo a possibilidade de reduzir custos e aumentar a frequência das missões.

Enquanto isso, o X-37B iniciou sua sétima missão em 28 de dezembro do ano anterior. Lançado em um Falcon Heavy pela primeira vez, acredita-se que ele tenha sido enviado a uma órbita altamente elíptica e de alta inclinação em uma altitude maior do que as missões anteriores. O X-37B voa desde 2010.