Descobertas lançam luz sobre processos geológicos e potencial habitabilidade de lua joviana, influenciando missões no futuro. Indícios de criovulcanismo chama atenção.
A missão Juno, com uma sonda da NASA explorando Júpiter e seus satélites naturais, proporcionou descobertas interessantes sobre Europa, lua do planeta gigante. Foram reveladas características do interior do astro, abaixo de sua superfície congelada, com imagens capturadas pelas câmeras JunoCam e Stellar Reference Unit (SRU).
As descobertas da JunoCam foram publicadas recentemente no Planetary Science Journal e as da SRU no JGR Planets.
Lançada em 2011, a Juno orbita Júpiter aproximando-se do planeta e de suas luas. Em 29 setembro de 2022, ela “sobrevoou” Europa e coletou dados que estão redefinindo o a forma como cientistas entendem a geologia e a potencial habitabilidade do astro. A apenas 355 quilômetros da superfície congelada da lua, a JunoCam capturou detalhes sem precedentes: blocos de gelo, paredes, escarpas, cristas e depressões de formas irregulares mostraram-se como nunca antes.
Uma das descobertas mais notáveis foi uma evidência do fenômeno chamado de “True Polar Wander”. Esta ideia sugere que a crosta de gelo de Europa flutua de forma livre sobre um oceano abaixo dela, resultando em altos níveis de estresse que causam padrões de fraturas previsíveis. Essa foi a primeira vez que tais padrões foram mapeados no hemisfério sul, indicando uma extensão maior do fenômeno do que se pensava anteriormente.
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As imagens de alta resolução também permitiram a reclassificação da Cratera Gwern. O que se pensava ser uma cratera de impacto de cerca de 20,8 km revelou-se como um conjunto de cristas que criam uma sombra oval.
As imagens capturadas pela SRU foram ainda mais reveladoras. Utilizando uma técnica inovadora de iluminação onde a superfície de Europa foi iluminada apenas pela luz refletida de Júpiter, a equipe conseguiu evitar a superexposição e destacar características complexas da superfície.
Uma das formações mais intrigantes vistas dessa forma foi apelidada de “Ornitorrinco” devido à sua forma distintiva. Com 37 x 67 km, é caracterizada por um terreno caótico com cumes, colinas, blocos de gelo de 1 a 7 km de largura e material marrom-avermelhado escuro. Esse relevo tão diversificado indica uma dinâmica geológica ativa. Essa é a formação mais jovem em sua região.
Água e criovulcões As descobertas têm implicações profundas para a compreensão da geologia de Europa. A identificação de padrões de fraturas e formações como o Ornitorrinco sugere que a crosta de gelo de Europa é dinâmica e pode ser influenciada por um oceano subsuperficial. Este oceano, possivelmente salgado e em contato com o núcleo rochoso da lua, poderia apresentar condições favoráveis à vida microbiana.
Ao norte do Ornitorrinco, uma série de cristas duplas flanqueadas por manchas escuras sugere depósitos de plumas criovolcânicas. Essas evidências são importantíssimas: indicam atividade geológica contínua e a presença de água líquida abaixo da superfície. A presença de água líquida sob a superfície gelada é de particular interesse, pois pode indicar ambientes habitáveis.
Se essa água realmente estiver sendo ejetada para o espaço em criovulcões – como acontece em Encélado, lua de Saturno -, poderá ser possível analisá-la sem perfurar a camada de gelo da lua. Já foram feitos diversos estudos sobre a possibilidade de perfurar o gelo para alcançar o oceano abaixo dele com um pequeno submarino robótico. Todos levantaram diversos desafios a serem transpostos: do fornecimento de energia à transmissão de dados através do gelo. Por isso, a possibilidade de analisar essa água a partir do espaço é de grande interesse para os cientistas.
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Sondas A Juno ainda envia dados valiosos, com a próxima aproximação de Júpiter (perijove) programada para 13 de junho. Esse encontro com o planeta inclui uma passagem pela lua Io, o corpo mais ativo vulcanicamente do Sistema Solar.
As formações observadas são de grande interesse científico para missões no futuro. A Europa Clipper, da NASA, tem lançamento previsto ainda para esse ano, com chegada a Júpiter em 2030. Ela investigará a habitabilidade de Europa com uma série de instrumentos avançados que examinarão minuciosamente a crosta e o oceano da lua, buscando sinais de vida e condições propícias.
A Juice, da ESA, foi lançada em abril de 2023 e alcançará Júpiter em 2031, se concentrando no ambiente joviano (as condições do espaço ao redor do planeta) e em seus quatro satélites galileanos (descobertos por Galileu Galilei), Europa, Ganimedes, Calisto e Io. Também vai estudar a atmosfera, a magnetosfera e os anéis do planeta.
As imagens de alta resolução capturadas pela JunoCam e pela SRU e as revelações que trouxeram sobre a dinâmica geológica são fundamentais para o planejamento das outras missões. Com elas, cientistas e engenheiros podem se preparar melhor para explorar as condições de Europa ligadas à sua potencial habitabilidade.