Sem estrela-mãe, é extremamente difícil encontrar planetas “livres”. Precisão sem precedentes de observatório europeu permite encontrar objetos menores.

É provável que existam milhões de planetas “desgarrados” ou “livres” (free-floating planets, FFPs) espalhados pela galáxia. Eles não são grandes o suficiente para se tornarem estrelas, mas também não estão ligados gravitacionalmente a uma estrela.

Podem ser considerados “estrelas fracassadas”, pois não tinham massa suficiente para iniciar o processo de fusão, crucial na formação estelar. Estão entre os objetos mais difíceis de serem vistos pelos astrônomos, pois não possuem luz própria e só podem ser vistos quando passam na frente de algo que emite luz.

É aí que entra o telescópio espacial Euclid, lançado ano passado pela Agência Espacial Europeia (ESA). Sua principal missão é observar o Universo a fim de compreender sua história, mas um novo artigo descreve um projeto paralelo interessante – encontrar FFPs em Órion.

Em particular, ele está encontrando FFPs em Sigma Orionis. Esse sistema famoso é visto no lado leste do Cinturão de Órion e contém pelo menos cinco estrelas ligadas gravitacionalmente. Ela também é cercada por uma “onda” de poeira que aponta para a Nebulosa Cabeça de Cavalo, que fica próxima – o que a torna um local mais propício à detecção de FFPs.

Essa não é a primeira vez que FFPs são encontrados em regiões de formação estelar: já foram encontrados em NGC 1333, Collider 69 e até mesmo em M 42, a famosa Nebulosa de Órion. Se quer é primeira vez que foram encontrados em Sigma Orionis. Porém, é a primeira vez que foram detectados com a precisão permitida pelo Euclid. Segundo os autores do artigo, “parecem ser onipresentes e numerosos”.

Localização de Sigma Orionis no céu (IAC)

A pesquisa foi uma espécie de teste para o telescópio. As observações foram feitas em outubro de 2023, apenas alguns meses após seu lançamento Essas observações também se concentraram em regiões conhecidas por já conterem diversos FFPs.

A equipe da pesquisa encontrou muits FFPs muito menores do que os conhecidos anteriormente. Os astrônomos usam um algoritmo chamado Função de Massa Inicial (IMF) para descrever o número de estrelas de tamanhos específicos que seriam formadas. Os FFPs definem o limite inferior dessa IMF: se um objeto não for grande o suficiente para se tornar uma estrela, ele se torna um FFP. Os FFPs suficientemente menores ajudam os astrônomos a definir os limites do FMI em determinadas regiões, mas, até agora, eles escaparam da atenção dos detectores menos sensíveis.

Os autores do artigo destacam como a extremidade inferior da IMF não está bem definida e descrevem como os dados coletados pelo Euclid poderiam ser usados para aperfeiçoar os modelos na extremidade inferior do espectro. No entanto, também destacam que ainda estamos no início do ciclo de coleta de dados do telescópio e que muitos outros sistemas podem se mostrar promissores para a descoberta para FFPs menores do que os já vistos anteriormente.

No momento, esse é um excelente caso inicial e de teste dos recursos do Euclid. Dado o grande número de objetos que podem estar “flutuando por aí”, ele terá muitas outras oportunidades de encontrar mais e, de acordo com o artigo, já começou a procurar. Como restam mais de cinco anos da missão planejada, sem dúvida, veremos mais pesquisas encontrando FFPs e aprimorando o modelo de formação estelar no futuro.