Emergência durou cerca de uma hora. Causa de desintegração de satélite ainda não está clara.

Os nove tripulantes da Estação Espacial Internacional (ISS) moveram-se brevemente para suas espaçonaves de retorno noite de quarta-feira, dia 26, após o um satélite russo se romper na órbita baixa da Terra.

A tripulação da Expedição 71 dirigiu-se às suas três espaçonaves, incluindo a Starliner, pouco depois das 22h de Brasília, de acordo com um post da NASA no X. Como a ISS segue o fuso horário de Greenwich, os astronautas provavelmente estavam no período de sono quando o incidente ocorreu.

O procedimento foi uma medida de precaução, acrescentou a NASA, afirmando que a tripulação só permaneceu nas espaçonaves por cerca de uma hora antes de ser autorizada a “retomar as operações normais”.

A NASA não especificou qual satélite estava associado ao incidente, mas a empresa de monitoramento de satélites e detecção de colisões LeoLabs identificou um “evento gerador de detritos” naquela mesma noite. “As primeiras indicações são de que uma espaçonave russa não operacional, Resurs-P1 [ou] SATNO 39186, liberou uma série de fragmentos”, escreveu a empresa no X.

O Comando Espacial dos EUA (USSPACECOM) também relatou o evento, dizendo no X que mais de 100 fragmentos rastreáveis ​​foram gerados. “O USSPACECOM não observou ameaças imediatas e continua a realizar avaliações de conjunções de rotina para apoiar a segurança e a sustentabilidade do domínio espacial”, afirmou. Uma conjunção refere-se a uma aproximação de dois objetos em órbita.

A NASA não especificou o quão perto os pedaços do satélite russo chegaram da ISS. A LeoLabs declarou que os fragmentos foram liberados entre 10h05 e 21h51 (de Brasília). Um porta-voz da empresa disse no dia 27 que estavam rastreando pelo menos 180 objetos do evento, um número que pode aumentar. Ele acrescentou que ainda é muito cedo para determinar o que causou o evento.

Modelo de satélite Resurs-P (Vitaly V. Kuzmin)

Causas O Resurs-P1 é um satélite de observação da Terra de cerca de 6 toneladas e foi usado para aplicações que vão desde defesa até monitoramento de emergência e agricultura. Foi lançado em 25 de junho de 2013 em uma órbita heliossíncrona e operou até dezembro de 2021 – além de sua vida útil esperada, de acordo com o site RussianSpaceWeb. Sua órbita estava se deteriorando e era provável que reentrasse na atmosfera ainda esse ano. No momento do incidente, a sua altitude tinha diminuído para cerca de 355 km.

Não está claro o que causou a desintegração do satélite. Uma hipótese diz que ele pode ter sido atingido por um detrito não rastreado. Porém, a causa mais provável é uma passivação inadequada no final de sua operação. A passivação é um processo que envolve a remoção de fontes de energia, como a drenagem de baterias e a ventilação de tanques. Esses fatores já foram associados a desintegrações de satélites.

Também houve especulação de que o satélite foi atingido por uma arma antissatélite (ASAT) russa. Isso teria sido parecido com um teste feito pela Rússia em novembro de 2021, quando uma ASAT de ascensão direta atingiu o Cosmos 1408, criando quase 1.800 detritos rastreados. Na ocasião, tripulantes da ISS também se abrigaram em suas naves por risco de colisão. A ação não foi anunciada ou acordada com outros países, que condenaram o feito.

No entanto, não houve declarações nem do Departamento de Defesa dos EUA nem do Ministério da Defesa russo. Um teste como esse provavelmente teria sido observado por ativos americanos e a Rússia não apresentou restrições de espaço aéreo associadas a qualquer possível local de lançamento de uma ASAT.

Lixo espacial A quantidade de detritos espaciais em órbita é uma preocupação crescente. No momento, o Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD) está rastreando mais de 45.300 objetos em órbita, segindo o SpaceTrack.org, mas sabe-se que existem muitos objetos não rastreáveis. A organização Union of Concerned Scientists lista 7.560 satélites operacionais em órbita da Terra.

A NASA trabalha com os militares para monitorar a área ao redor da ISS. A estação normalmente é movida, se houver tempo, se qualquer peça rastreável de aproximadamente 5 cm entrar em uma “região de segurança” ao redor da órbita da ISS. Essa região tem aproximadamente 4 x 50 x 50 km, com a ISS no centro.

Os procedimentos da NASA também determinam que os astronautas podem abrigar-se em suas naves espaciais de retorno se o perigo, normalmente muito pequeno em termos estatísticos, trouxer a possibilidade de necessidade de evacuação da ISS. Um exemplo disso foi o teste russo de 2021.

Ilustração da densidade de lixo espacial na órbita Baixa da Terra (ESA)

Starliner O incidente dessa semana ilustra o que a NASA têm enfatizado sobre a Starliner, que está há mais de três semanas em sua missão de teste tripulado – originalmente programada para durar oito dias. A nave está autorizada a deixar a ISS em caso de emergência. As outras duas espaçonaves tripuladas acopladas à ISS são uma SpaceX Dragon transportando quatro astronautas e uma Soyuz russa com três tripulantes.

A data de retorno da Starliner ainda não foi divulgada e a nave aguarda a revisão e teste de seus sistemas de propulsão e fornecimento de hélio. Os astronautas da NASA Butch Wilmore e Suni Williams, tripulantes da missão, estão agora trabalhando na manutenção da ISS após a realização desses testes, de acordo com várias atualizações da NASA em seu blog sobre a estação espacial.

Na sexta-feira, dia 21, a NASA disse que o retorno da Starliner ocorrerá depois de 2 de julho, após uma caminhada espacial programada para aquele dia. Mas também não está claro se essa atividade prosseguirá, já que um vazamento de refrigerante interrompeu uma caminhada espacial na segunda-feira. Segundo a agência, os astronautas realizaram uma “revisão da caminhada espacial” e têm revisado os procedimentos e examinado o traje espacial afetado desde então.

Starliner, da Boeing, acoplada à ISS (ESA)

A Boeing e a NASA disseram que missões de desenvolvimento como a Starliner muitas vezes ficam fora dos cronogramas planejados devido a fatores inesperados. E a United Launch Alliance (ULA, joint venture entre a Lockheed Martin e a Boeing), fornecedora de foguetes Atlas V para os lançamentos da Starliner, deu sinais positivos a repórteres no dia 26 durante uma teleconferência sobre seu lançamentos do novo foguete Vulcan Centaur.

“Eles estão todos sãos e salvos”, disse o CEO da ULA, Tory Bruno. Ele estava falando sobre a tripulação do Starliner, ambos ex-pilotos de testes da Marinha dos EUA. “Entendo que os vazamentos de hélio que têm sido noticiados são estáveis ​​e que há uma reserva muito, muito grande de hélio a bordo do veículo, portanto não há urgência em seu retorno”, acrescentou. “Há muitos suprimentos na estação espacial. Então, novamente, não há urgência nisso.”

Como indicado pela NASA anteriormente, Bruno observou que, além de um propulsor que será desligado durante a desacoplagem, os outros 27 do sistema de controle de reação ainda estão operacionais. Cinco propulsores exibiram anomalias durante a aproximação para acoplagem. Enquanto um permanece desligado, os problemas nos outros quatro “foram amplamente esclarecidos”, disse ele.

Bruno acrescentou que as revisões sobre o que fazer a seguir ainda estão em andamento. ‘A NASA e a Boeing irão trazê-los para casa quando terminarem de trabalhar e quando estiverem prontos e tudo estiver seguro.”