Governo australiano negou empréstimo para aquisição. DefendTex deseja transferência completa de tecnologia, ameaçando soberania brasileira de defesa.

Nos últimos meses, antes da “reativação” do blog, postei no Instagram sobre a compra da Avibras pelo grupo australiano de defesa DefendTex. A empresa brasileira enfrenta dificuldades financeiras há certo tempo e o sindicato que atende os funcionários fez manifestações quando anunciada a intenção de compra.

Na terça-feira passada, 4 de junho, a rede jornalística australiana SkyNews transmitiu uma entrevista com Travis Reddy, CEO da DefendTex. Reddy mostrou-se contrariado pela posição do governo australiano de negar um empréstimo para a aquisição da Avibras.

Um dos argumentos dados pelo executivo causou reações negativas entre brasileiros dos setores aeroespacial e de defesa. Ele reconheceu a importância da Avibras para o Brasil em termos de defesa e soberania e citou que seria benéfico para a Austrália transferir toda a tecnologia na aquisição.

“Uma aquisição como esta e a transferência de tecnologia para a Austrália nos colocariam em pé de igualdade com os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a Alemanha – os principais intervenientes na defesa. Sem mencionar os nossos adversários”, disse Reddy. Isso traria toda uma pilha de propriedades intelectuais para a DefendTex e nos permitiria replicar essas capacidades aqui na Austrália, de modo que, sob qualquer condição, usando apenas os recursos que são abundantes aqui, [seríamos] capazes de produzir desde o início até a conclusão [de desenvolvimento de tecnologias de] ataque de longo alcance e artilharia de foguetes.”

Travis Reddy, CEO da DefendTex (Reprodução / SkyNews / YouTube)

A Revista Foguetes Brasileiros vem acompanhando o processo de aquisição desde que não passava de um rumor. Ao publicar as notícias, o site as acompanha com críticas sobre os efeitos negativos para a soberania brasileira de defesa e o setor aeroespacial. “O resultado dessa venda seria a transferência dessa tecnologia e toda sua produção para a Austrália, e os trabalhadores brasileiros ficariam de mãos abanando, da mesma forma que as Forças Armadas que perderiam um fornecedor nacional”, escreveu Raul Carlos, que mantém o site.

“Esta aquisição está apoiada no interesse nacional da Austrália? Está adquirindo 70 anos de experiência em armas e munições guiadas no interesse nacional australiano? Está adquirindo um programa espacial de interesse nacional? Está fabricando foguetes e mísseis guiados na Austrália, de interesse nacional? Para mim a resposta a todas essas perguntas é sim”, insistiu o executivo australiano.

“Quando olhamos para o atual ambiente geopolítico e para a mensagem que vem do governo, é tudo uma questão de tempo. E a única maneira de ganharmos tempo é trazer um sistema existente e o knowhow aqui para a Austrália. […] Inicialmente faríamos a montagem final aqui na Austrália e isso seria alcançado em questão de meses. Realizaríamos a fabricação completa de ponta a ponta em 18 meses”, disse ele.

Em seu site, Carlos arrematou: “Para aqueles que falaram que isso seria uma excelente solução para os trabalhadores que estavam sem salários, bom… em 18 meses, se essa negociação for concluída, eles estarão sem emprego.”