Filme apresenta ficção como realidade. Enredo beira o absurdo; ufólogos reprovam.

Olá! Tudo bem? Já estou um pouco mais folgado, embora provavelmente não tenha férias "plenas". Sempre que posso, escrevo rascunhos nos quais vou trabalhando para publicar aqui. E até que estou com ideias boas, viu?

Em maio, postei no Blog o filme "Contatos de Quarto Grau" ("The Fourth Kind"). A produção é apresentada como documentário, mas seu enredo é totalmente fictício. No filme, a psicóloga Abigail Tyler, interpretada por Milla Jovovich, utiliza hipnose regressiva no tratamento de pacientes que apresentam insônia e pesadelos após ver uma estranha coruja branca. Eles não conseguem falar sobre o que descobrem nas regressões e, após dois deles reagirem de forma violenta à descoberta, Tyler encontra uma ligação pessoal ao caso.

"Contatos de Quarto Grau": ufólogos criticam enredo absurdo de produção cinematográfica que confunde público (Foto: reprodução)

"Contatos de Quarto Grau", dirigido por Olatunde Osunsanmi, teve grande repercussão em todo o mundo, principalmente pelo fato de Milla Jovovich dizer no início do filme que a produção "é uma dramatização de eventos" ocorridos em outubro de 2000 na cidade de Nome, no Alasca.

Não há motivos para criar mistério sobre o que havia acontecido com os personagens do filme, uma vez que isto fica claro em seu título.

Os envolvidos  A atriz também diz que nomes de pessoas envolvidas foram alterados ou suprimidos para protegê-las. A verdade é que a doutora Tyler nunca existiu.

Quem me conhece sabe que me interesso por ufologia e costumo pesquisar bastante sobre o assunto. Achei estranho não ter ouvido falar de Abigail Tyler, já que ela seria um nome tão forte na área de pesquisas de casos de abdução. Pela pesquisa que havia feito sobre o filme, já sabia que os fatos apresentados no filme eram fictícios – apesar da atriz dizer que seriam apresentados gravações de vídeo e áudio como provas.

Milla Jovovich em cena de "Contatos de Quarto Grau" (Foto: reprodução)

Gravações  O caso teria sido muito bem documentado não apenas porque Tyler gravava as hipnoses de seus pacientes, mas também por haver relação com desaparecimentos e assassinatos investigados pela polícia. A investigação do caso teria sido feita pelo diretor Osunsanmi e ele teria gravado uma entrevista com Tyler.

Outro ponto que chama a atenção está nos problemas técnicos que as câmeras apresentam justamente no momento em que algo muito importante "visualmente" está acontecendo. Não é curioso isso? Nas hipnoses em que ocorrem vocalizações (supostamente dos alienígenas) em uma língua antiga e até mesmo levitações, a gravação fica extremamente distorcida.

Regressões eram filmadas pela psicóloga (Foto: reprodução)

O mesmo ocorre quando a câmera numa viatura policial registra a chegada de uma nave sobre a residência de Tyler. Ainda assim, é possível ouvir o policial ofegante pedindo reforços pois a nave está puxando as pessoas de dentro da casa. Como diria Roberto Carlos, o importante são as emoções!

Prós  Na vida real, há casos de interferências em aparelhos eletrônicos nas proximidades de um OVNI ou em locais onde tais objetos tenham pousado. De forma semelhante, é comum que telefones celulares não consigam encontrar sinal de rede em círculos em plantações, por exemplo.

Um momento em que o filme condiz com a pesquisa ufológica real é a apresentação da teoria do astronauta antigo. Em algumas hipnoses, os pacientes vocalizam em sumério antigo. Um especialista procurado por Tyler apresenta a ela desenhos e esculturas antigas mostrando naves e seres estranhos, dando a entender que extraterrestres estiveram presentes nos primórdios de nossa civilização.

Outra semelhança é uma das maiores marcas do filme: a coruja. Na realidade, no início do transe da regressão hipnótica, os abduzidos não costumam encarar o fato e evitam reconhecer a natureza alienígena dos seres. A imagem de uma coruja é uma das "máscaras" na memória de muitos abduzidos.

"Não é uma coruja!" (Foto: reprodução)

Marco Antonio Petit, ufólogo co-editor da Revista UFO que tive o prazer de conhecer numa palestra em São José dos Campos, já escreveu que uma testemunha de Araruama, RJ, relatou ter visto uma coruja de mais de um metro de altura na mesma noite e lugar em que viu uma nave.

Contras  Felizmente, esta testemunha não assassinou sua família e cometeu suicídio em seguida, como fez um dos abduzidos de "Contatos de Quarto Grau". Muitas vezes, graças à incompreensão dos eventos e da natureza dos abdutores, testemunhas experimentam instabilidade emocional. Mas o filme de Osunsanmi leva ao extremo. Nunca uma testemunha assassinou os familiares e tirou a própria vida por desespero em virtude do ocorrido.

Outro exagero do filme são os efeitos físicos e fisiológicos dos pacientes de regressão no momento em que revivem suas experiências. Violentos golpes fraturam ossos e quebram a coluna, fazendo com que estas pessoas fiquem paralisadas para o resto da vida. Se você ainda não viu o filme, deve ter acabado de ter perdido a vontade de ver…

No fim das contas, até a geografia estava errada. A verdadeira cidade de Nome é muito diferente do que é mostrado no filme. Mas, de fato, há muitos desaparecimentos na região e, com frequência, agentes do FBI estão por lá para investigar estes casos.

Por motivos óbvios, a comunidade ufológica reprovou a produção. Além de enganar o público com os dizeres de "baseado em acontecimentos reais", "Contatos de Quarto Grau" também confundem quem está iniciando na ufologia e o encontra na TV ou numa locadora.

Outro exemplo parecido é o filme "Fogo no Céu" ("Fire in the Sky"), sobre a abdução do jovem Travis Walton. O terror apresentado no cinema não faz parte da experiência vivida na realidade.

Mais sobre "Fogo no Céu" e o caso verdadeiro estão em "Escala de Hynek", texto que fiz sobre a escala de contatos com alienígenas após ter postado "Contatos de Quarto Grau".

Ah, caso você ainda queira assistir a este filme, clique aqui.

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Até a próxima! Watch the skies!

"O sentido do mundo é a separação de desejo e fato."

– Kurt Gödel (1906-1978), matemático austríaco naturalizado estadunidense

Eduardo Oliveira

editor